
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Em repeat
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Nome
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Entediada

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
O melhor do Natal

O abraço do meu irmão
A minha amiga piu-piu
O pacote de açúcar aparecido
Um dia perfeito
Um comprimido para a Estupidez

Um de Paz também não era mau.
Um de Amor talvez seja pedir demais.
Cada um se auto-medica do que precisa.
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Ash(es) - 4 - 9########

Mais o pin e número de contribuinte. O que esta noite me havia de trazer… A ligar para o apoio a cliente a perguntar como se muda o tarifário de alguém. Com uns simples dados. Há coisas do diabo. Perdida de riso lá digo à menina Margarida Martins (homónima?), que parece ter um qualquer insecto preso na garganta, que vou ligar ao meu amigo para saber o número de contribuinte, sabe, é que nós temos este tipo de relação íntima, perguntamos um ao outro os números de contribuinte e pins dos cartões dos telefones. Não há problema. Já volto a ligar, obrigada.
Que riso.
Se ele me der os dados, ligo e digo que é o telefone do meu namorado que está longe, a trabalhar. E que eu estou a acabar o liceu e os meus pais não me deixam ir viver com ele quando eu for, para o ano, para a Universidade.
Agora já não consigo conter o riso. Tenho de lhe ligar a contar isto.
(...)
Não chegámos a mudar o tarifário.
E de repente, essa sensação familiar. De volta. Como se perfeição se atingisse com o quotidiano de nós. O pin do telemóvel e o número de contribuinte. Eu trato disso. E depois não chegas a dar. E eu não chego a tratar de nada. E no fim do dia, com as crianças na cama e depois da cozinha arrumada, tu tens os pés em cima da mesa de café e lês um livro, de óculos porque agora precisas deles. E eu sento-me ao teu lado a por creme nas pernas e digo que não chegámos a tratar das coisas. E tu abraças-me, deixando cair o livro e dizes que não faz mal. Porque podemos tratar disso amanhã. E eu sei e sinto que o amanhã existe contigo. Que de manhã, estás lá. E me dás um beijo quando sais. E que apareces no meu trabalho para almoçar. E quando eu chego, estás a comer bolachas na cozinha e eu venho carregada de bolachas sem sal ou açúcar senão tu matas-te com colesterol. Mas também não resisto a essa bolacha que tens na mão. Depois chamas-me gorda e eu peço-te ajuda para fazer coisas que sei que não gostas e amuamos os dois, sorrindo.
Estás em mim. E é bom.
(18 de Agosto de 2008)
Feitios

L., para ti, cujo desafio é completar o cubo em menos de dois minutos, lembrei-me disso quando vi este postal em Post Secret.
:)
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
O Vestido

Era uma vez um cisne que achava que a história do Patinho Feio era sobre si. Era uma vez a Cinderela que achava que os trapos disfarçavam a beleza. Era uma vez uma Bela que adormeceu a imagem de si própria. Era uma vez uma madrinha que lançou uma poderosa bênção.
“Olha para ti hoje e vê o que todos nós vemos todos os dias. Mostra-te àquelas pessoas que estão na sala à espera que tu apareças depois de te veres como és.”
Limite

Se a alma existe, és uma delas. Grande, intensa, colorida. Com uma vibração fantástica. Não sonhas. Talvez porque nesta realidade a tua alma não consiga chegar onde a tua cabeça consegue. Talvez porque o que sentes e vives nesse estado (a que os comuns mortais chamam de dormir) seja demasiado forte para o teu corpo, que é humanamente limitado. Mas tu não. Acredito em Anjos, pois. E tu e eu vimos do mesmo sítio. Essa certeza ninguém nos tira. O comum dos mortais não aspira sequer a esse intrínseco conhecimento que trazes contigo. Comum não é de facto o adjectivo que te caracteriza. És única, especial, genial, inspirada, linda, e muito perspicaz.
Tu e a tua perspicaz visão são inesquecíveis. O vestido… Uma das maiores lições que aprendi na vida. E lembro-me sempre disso quando, por alguma razão, não me sinto bem. Volto a essa noite e olho-me ao espelho como se fosse a primeira vez. Como nessa noite. Nem sempre é fácil esse encantamento. A vida não é nada fácil. Mas depois existes tu, entre outros, e eu redescubro quem sou.
O convite para escrever o argumento… Será libertador, sem dúvida. Outra das tuas propostas aparentemente inofensivas mas que eu sei que é altamente provocadora. Estás a desafiar-me? Terás o teu argumento. Estou honrada com o teu convite.
Se houvesse algo que te pudesse dar, escrever, dizer, pintar, realizar, criar, que mostrasse o quanto eu te tenho a agradecer por teres entrado na minha vida, seria pouco. Resta-me estar por aqui, perto de ti. Um dia terei a oportunidade de ter contigo um gesto que represente tudo isso que sentimos quando olhamos uma para a outra e há algo que mais ninguém à volta compreende. As pessoas que passam por experiências limite reconhecem-se no olhar. E não há nada que os outros digam que se aproxime ao fio da navalha, frio e agudo como já o sentimos.
Quero-te lá todos os dias. Sem limites. No limite.
Admiro-te.
Anxiety

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Ash(es) - 3 - Histórias de Encantar

Sempre soubeste.
Como?
Quem és tu? De onde vens? Que presente trazem as tuas mãos? Que profecia falam teus lábios? Para onde vais? Eu vou? Porque me levas?
Leva-me.
Leva-me.
Estou contigo. E eis-me de braços caídos em rendição. Armas expostas e viradas para mim. Frágil. Declarada. Exibida. Revelada.
Olá. Então és tu? Vieste, enfim. Sebastião? Quantos nomes tens? Do nevoeiro vieste… Não viemos todos? Quantos nomes temos? Bem-vindo. Estava à tua espera. Não estaremos todos?
Do marinheiro que numa tarde de sol regresse, à proa de um navio cheio de vontades. Do rei que sai do nevoeiro e traz promessa. Do príncipe que morre de amor se assim for preciso, envenenando a maldição. Do beijo matinal depois de cem anos a dormir lado a lado. De uma rosa dentro de uma redoma, personificando eternidade? De lobos maus que nos arrebatem à tradição e às traições da rotina. De um par para o baile, mesmo com sapatos de fragilidade.
Histórias de encantar ou transposições? Autobiografias ou grilos falantes?
Encantamento de viver.
(15 de Agosto de 2008)
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Ash(es) - 1 - Confissão rendida de perdição

Ash(es)

Têm estado esquecidos numa pasta, à espera de uma dessas noites em que as palavras se fumam e o que fica no ar são neblinas espessas através das quais se vê nada. Mas se descobre tudo.
Tinha saudades destes textos.
Atrás de todos os Montes

Foto por Ricardo Falcão
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
O que eu quero

Talvez se eu parasse de ser cor de rosa…
Quero acabar a minha lista do que eu quero.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Expectations

1 – Enfermeira ou Psicóloga
2 – Contida
3 – Dócil
4 – Amestrada
5 – Serena
6 – Resignada
7 – Muda
8 – Homem
9 – Linda
10 – Outra coisa qualquer
Círculos

E depois há dias como hoje. Tropecei 3 vezes hoje. Até que percebi que caía se não percebesse porque tropeçava eu. Continuo sem saber. Mas pelo menos chamou-me a atenção para o caminho.
Não vou questionar. É assim.
Saboreia…
Depois de várias promessas e algumas frustradas tentativas, espero ter regressado de vez.
Com alguns projectos novos. Talvez renovada. Talvez igual a mim mesma, o que quer que isso seja.
Hoje deixo dois agradecimentos.
A duas pessoas que gostavam que eu fosse apenas eu. Que estão lá sempre, à distância de os sentir, mesmo que não os veja. Que entraram na minha vida com aceitação. Mas sobretudo com verdade. E que eu sei que nunca me mentem. Mesmo que seja exactamente o que eu não queria ouvir.
Alada, de uma maneira ou outra, é tudo igual.
Peter Pan, em que Terra do Nunca vivo eu?
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Demoras
Tenho andado a escrever. Sobretudo as noites, numa absurda e estranha compilação chamada Ash(es). De cinzas. De ash.
Tenho andado em descoberta. Em revelação.
Descobri.
E agora estou a vivê-lo.
Cheguei aqui, por fim. Estou pronta.
Um especial obrigada ao amigo PS, que me levou a sítios maravilhosos este fim de semana e me mostrou os maravilhosos sítios que tenho dentro de mim. If I only learn to let them show.
domingo, 11 de maio de 2008
Everlong

Hello
I've waited here for you
Everlong
Tonight
I throw myself into
And out of the red, out of her head she sang
Come down
And waste away with me
Down with me
Slow how
You wanted it to be
I'm over my head, out of her head she sang
And I wonder
When I sing along with you
If everything could ever feel this real forever
If anything could ever be this good again
The only thing I'll ever ask of you
You've got to promise not to stop when I say when
She sang
Breathe out
So I could breathe you in
Hold you in
And now I know you've always been
Out of your head, out of my head I sang
And I wonder
When I sing along with you
If everything could ever feel this real forever
If anything could ever be this good again
The only thing I'll ever ask of you
You've got to promise not to stop when I say when
She sang
And I wonder If everything could ever feel this real forever
If anything could ever be this good again
The only thing I'll ever ask of you
You've got to promise not to stop when I say when
She sang
sábado, 19 de abril de 2008
terça-feira, 1 de abril de 2008
quarta-feira, 19 de março de 2008
E então???

segunda-feira, 17 de março de 2008
domingo, 16 de março de 2008
Uma noite perfeita

Deixa-me feliz

Rumando p’ró o sul
Brincando na proa
Gostavas de estar
Voa lá no alto
Por cima de ti
Um grande falcão
És o rei és feliz
E quando tu
Vês o Mississipi
Tu saltas pela ponte
E voas com a mente
Nuvens de tormentas
Estão sobre ti
Corre agora corre
E te esconderás
Entre aquelas plantas
Ou te molharás
E sonharás
Que és um pirata
tu... sobre uma fragata
tu... sempre à frente de um bom grupo
De raparigas e rapazes
Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
Junto ao rio a passear, Tom Sawyer
Mil amigos deixarás, aqui e além
Descobrir o mundo, viver aventuras
quinta-feira, 13 de março de 2008
Happy Hour

Mesmo em pequenas quantidades, insuficientes para causar uma bebedeira, a cerveja depois do trabalho deixa-nos descontraídos, alegres e bem dispostos. Apesar do efeito diurético que caracteriza esta bebida, a verdade é que se for bebida com moderação pode ter efeitos fantásticos no humor.
Em caso de persistência dos sintomas, consulte o seu médico, farmacêutico, barman, ou quem sabe outro alguém de bata branca...
quarta-feira, 12 de março de 2008
Meia bola e força!

O manual de que todas as noivas precisam? Aqui da amiga a organizar as festas, pois claro! PR on the job!!
Estou tão feliz com a notícia!!
E vou já começar com as diligências de amiga em pulgas! Vá, deixa lá o homem em casa e passamos um fim-de-semana com revistas para escolhermos os modelitos e passarmos a noite à conversa, entre bolachas, leite e recortes de farrapos brancos. E há as flores, e os convites, e os menus, e a viagem, e os presentes, as listas, enfim... Tudo aquilo a que tens direito e em grande estilo!
Nada mal para um café...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
4 luas

E uma passou.
É que eu agora conto-as.
Quando a noite chega, o Peter Pan assalta-me os sonhos e voo de novo.
De manhã ficam na almofada os restos de pó dourado e de pensamentos felizes.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Ausência

Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
(Sophia de Mello Breyner Andersen)
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
E o beijo da semana vai para...
Regresso ao activo
Depois de muitos e-mails a pedir o meu regresso, a implorar novidades, depois de todos os telefonemas a perguntar o que se passa, estou de volta.
Diz a Alada que o silêncio assusta as pessoas e talvez por isso a preocupação geral em saber porque nunca mais escrevi. Acontece que o silêncio não me assusta a mim e tem sido meu amigo e uma necessidade.
Mas estou de volta. Sosseguem.
E publicarei os últimos capítulos desta nova história que está escrita há muito tempo.
sábado, 26 de janeiro de 2008
Verde Seco
Sem antes nem depois. Sem "se" nem "mas". Sem questões. Porque sim!! (E foi isso que me disseste que me fez decidir, ali entre as árvores do parque, o sol e tu).
Estar.
Cheios de tudo e cheios de nada. Num tempo e espaço sem tempo e espaço. Sem fronteiras nem limites.
Estar.
Em todo o pleno Ser de cada um de nós.
Baraka.
Entender a libertação de um perfeito estado de comunhão de duas almas selvagens, que sabem não questionar. Partilhar os fantasmas.
Agradecer a Benção de Estar. E viver questões a natureza de cada Ser.
Agora sim.
Não vou sentir saudade.
Não vou sentir a tua falta.
Vou sorrir. Estou grata. E feliz.
Porque a felicidade nada mais é do que a consciência de Estar, Sendo.
Obrigada.
Pelas plácidas cores das montanhas. E pelas outras...
Pelo Sol e pela Lua Cheia... ou nem tanto :)
Pela fogueira. E o calor no frio.
Pelos passeios e caminhos. E a vibrante quietude de ti.
Pelo espicaçar da procura do "Do".
Pelas noites. E as manhãs... (quem diria? Vitória nossa, segredo teu)
Pelas teorias desfeitas em farrapos de lençol.
Pelo cantinho aninhado entre o ombro e o braço. E por esse tão Teu abraço.
Pela mão.
Pela mão cheia de lágrimas de Sentir. Cura (um ser humano é o remédio de outro...).
Pelo cheiro das castanhas assadas, que sinto sempre perto de ti.
Pelas páginas reconfortantes de branco de uma história sem fim nem início.
Pelo Eu. Pelo Tu. Pelo Estar que os dois partilhámos numa cumplice descomplicação.
Pelo "Fanta Bourama" e tudo o que isso que me fará sempre Sentir (e sorrir).
Pelas imagens e sons. Pela música. E os acordes de Estar. Contigo.
Pelos melhores presentes de sempre. Imprevisíveis, etéreos, imateriais e inesquecíveis.
Pelas asas nas tuas mãos. (Não se vai chamar Agridoce, decidi há umas semanas.)
O teu magnífico sorriso de contemplação de coisas simples é Baraka. E eu descobri em mim a mesquita de cristal sagrada que ninguém visita.
E a tal foto? Também eu tenho agora uma imagem que não consigo reproduzir. Mas eu espero. E não me esqueço.
Vou ter-te Sempre em Terras do Nunca comigo. Em lugares de tudo e nada sem príncipio nem fim. Mas só porque gosto mais de ti do que do Johny Depp que só me deu negas esta semana. :)
Sem antes.
Sem depois.
Sem dúvidas.
Sem dúvida.
Até sempre, num qualquer tempo que voltará a ser sem tempo.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Revelação

Foi um sopro que se transforma devagar em tumultuoso furacão dentro de mim.
Quatro - Desaparecimento
Cheguei à discoteca e fui ao bar pedir uma vodka com limão. Eu e uma amiga subimos ao primeiro andar para dançar um pouco e, quando acabei de beber disse-lhe que ia à casa de banho. Estava a sentir-me mal e não consegui perceber porquê.
Na casa de banho, molhei a cara e quando me vi ao espelho, percebi que estava tudo desfocado. Comecei a sentir-me mesmo mal e decidi ir ao andar de cima avisar a minha amiga.
A discoteca tinha uma escadaria enorme e estava cheia de gente. Comecei a cambalear e lembro-me apenas de me deixar cair para trás.
Quando abri os olhos estava um rapaz muito bonito a olhar para mim com um ar preocupado.
- Estás bem?
Não sei se lhe respondi.
- Ias caindo da escada abaixo. Queres que chame alguém?
- Eu estou com uma amiga, mas perdi-me dela. Não sei o que se passa. Só bebi uma vodka, mas estou mesmo mal disposta. Parece que bebi dez.
- A tua amiga está cá em cima?
- Acho que sim.
- Então eu ajudo-te a procurá-la. Queres ir ao hospital?
- Não, não. Quero ir embora. Olha, a minha amiga está ali. Vou ter com ela. Obrigada.
Fui ter com a minha amiga e desculpei-me com ela mas pedi-lhe para me levar a casa. Estava a sentir-me mesmo mal. Quando estava a sair da pista de dança, o rapaz veio ter comigo.
- Olha, fiquei mesmo preocupado contigo. Até estavas a revirar os olhos. Dá-me o teu número de telefone para eu te ligar amanhã. Para saber se estás bem.
Deitei-lhe um ar desconfiado.
- Está bem, pronto. Então eu dou-te o meu número. Mas por favor manda-me uma mensagem. Fiquei mesmo preocupado. Sou o Gonçalo.
- Sou a Maria.
Meti o papel dentro do bolso das calças e desci com a minha amiga.
Fui todo o caminho para casa com a cabeça do lado de fora da janela. Quando cheguei a casa, ainda mal disposta, fui a correr para a casa de banho. Vomitei até cair de joelhos no chão da casa de banho. Por fim, consegui arrastar-me até à sala e sentei-me no sofá. Não queria acordar o Rogério, senão ainda tinha de aguentar uma discussão.
Olhei para a mesa da sala e percebi a causa da minha indisposição. Os anti-histamínicos. Não devia ter bebido. Nem uma gota.
Tirei a roupa e do bolso das calças caiu um papel. Lembrei-me o que era e peguei no telefone.
“Olá. Já cheguei a casa. Estou melhor. Obrigada pela tua ajuda. Um beijinho. Maria.”
Pronto. Cumpri com a promessa e mandei uma mensagem ao Gonçalo. Foi bastante simpático o rapaz. Se não fosse ele tinha caído da escada abaixo…
No dia seguinte tive de ouvir o Rogério a refilar por causa da minha noitada. Que devia ter chegado a casa num belo estado para ter espalhado a roupa pela sala e ter adormecido no sofá. Ignorei-o. Até porque não me apetecia explicar-lhe o que tinha acontecido.
No fim desse dia recebi uma mensagem do Gonçalo.
“Olá Maria. Estás melhor? Obrigada por teres mandado a mensagem a dizer que tinhas chegado a casa. Fiquei mesmo preocupado. O que te aconteceu?”
Respondi-lhe e por uns dias esqueci o assunto.
Um dia, durante uma aula recebi uma mensagem dele a perguntar onde eu estava e se queria lanchar. Disse-lhe que podia ser e onde era a minha faculdade. Quando saí das aulas o Gonçalo estava à minha espera. E fomos lanchar. Conversámos bastante sobre cada um de nós e lembro-me distintamente de lhe ter dito que tinha namorado. Mas isso não pareceu afectar o Gonçalo. No fim do lanche, ele acompanhou-me a casa.
- Quando te vejo de novo?
- Não sei Gonçalo. Mas podemos lanchar de novo um destes dias.
- Então eu depois telefono-te. Mas para a próxima vais ter à minha faculdade.
E assim foi. No fim dessa semana fui ter com o Gonçalo à faculdade dele e fomos dar um passeio. Andámos de eléctrico, comemos os famosos pastéis, passeamos à beira-rio. A conversa parecia não se esgotar. E apesar de contrariar o caminho dele, o Gonçalo acompanhou-me a casa de novo.
Na semana seguinte, o Gonçalo foi de novo ter comigo à faculdade. E no dia a seguir. E nos próximos. E, de repente, todos os dias o Gonçalo me ia esperar à porta da sala para irmos lanchar. Dávamos passeios ao fim do dia e depois ele acompanhava-me a casa.
Um dia deu-me uma folha A4 dobrada em três, com um desenho. Desdobrei-a e vi uma foto dele. Atrás da foto tinha escrito:
“Maria, não há palavras para isto. Já sabes o que sinto por ti…”
Receando um avanço do Gonçalo, voltei a dizer-lhe:
- Mas Gonçalo, tu sabes que eu tenho namorado. Gosto muito de ti e de estar contigo. E deixas-me confusa em relação aos meus sentimentos. Mas eu tenho namorado. Eu não posso deixar o Rogério.
- Se estás confusa é porque não é com ele que tens de estar.
Fiquei sem resposta. Mas ignorei o aviso. E esperei que passasse.
Uns dias mais tarde, estava em casa com o Rogério, à noite e o meu telefone tocou. Era uma mensagem do Gonçalo:
“Estou cá em baixo. À tua porta. Desce. Preciso de te ver.”
- Vou comprar cigarros. Venho já.
- Agora Maria?
- Sim. Venho já.
Desci as escadas de par em par e corri para os braços estendidos do Gonçalo.
- Desculpa, mas tive saudades tuas.
- Tu és louco. O Rogério está lá em cima. Acha que eu vim comprar cigarros.
- E vais. Mas de caminho bebes um sumo comigo.
Quando cheguei a casa o Rogério já estava deitado.
- Não havia cigarros em Lisboa? Onde foste a esta hora, Maria?
- Ali ao café da rua de trás. Estava lá a vizinha ali do prédio da frente e fiquei para beber um café.
Era a primeira vez que mentia ao Rogério. Mas não queria partilhar com ele o que estava a acontecer. Apaixonei-me pelo Gonçalo. E não sabia que volta devia dar à história.
Continuei a encontrar-me com o Gonçalo, avisando-o de que estava errado encontrar-me com ele e que tinha de deixar de o ver. A resposta do Gonçalo era sempre a mesma. Mas as investidas acalmaram. O Gonçalo deixou de me ir buscar à faculdade e deixamos de nos ver. Uma semana depois, à noite, recebi uma mensagem do Gonçalo.
“Estou à tua porta. Desce. Deixa tudo. E fica comigo. Espero até às 11. Se não vieres, eu desisto e não te incomodo mais. Gosto de ti.”
Fiquei sentada no sofá, sem me mexer. Não tive coragem de ir à janela. Não me mexi durante a hora seguinte. Chorei baixinho durante essa hora. O Rogério nunca me perguntou o que se passava. Levantou-se e foi para a cama sem uma palavra. Nunca me perguntou nada. Às 11 e cinco recebi outra mensagem do Gonçalo.
“Não te esqueças que gosto muito de ti. Foi um prazer.”
E foi a última vez que tive notícias dele. Uns dias mais tarde, mais triste do que nunca, tentei ligar mas o telefone tinha sido desligado. Liguei para o irmão, que nunca atendeu as minhas chamadas. Passei dias inteiros à porta da faculdade dele. Nunca o vi. Nunca mais o encontrei.
Nos anos que se seguiram, lembrei-me do Gonçalo várias vezes, mas nunca me cruzei com ele. Nem uma única vez o vi num bar ou centro comercial. Imaginei tudo: que tivesse mudado de cidade, de país, que lhe tivesse acontecido alguma coisa… Cinco anos passaram desde essa última mensagem do Gonçalo.