quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Ash(es) - 1 - Confissão rendida de perdição


Há algum tempo que me tinha lembrado disto. Ontem o meu irmão relembrou-me. E foi o melhor que fez.

Bati de novo no fundo do poço. E para aliviar a pressão dos meus dias, recorro a excessos à noite. Bipolar quase. De dia as tentativas de auto-controlo. De noite a veneração de tentar atingir a nebulosidade reveladora.Hoje, de humor elevado com uma pequena ajuda de 4 comprimidos, o dia passou relativamente tranquilo. Depois do trabalho, um copo com amigos. Cheguei a casa e eis que descubro no armário da casa de banho uma bolsa preta que costumava ter a maquilhagem de emergência para o trabalho no MC. Continha apenas dois ganchos para o cabelo, já meio enferrujados, um elástico, e uma pen-drive também desse tempo já quase irreal. Quase em euforia ponho a pen na entrada USB e descubro Nine Inch Nails. Brutal.

E as minhas descobertas revelam-se de novo. E de novo a vontade de escrever a inspiração trazida e relembrada pelo meu irmão. O que eu ouvia no tempo em que a Alada me acompanhava todos os dias, em que o Lobo ainda não tinha partido para o meio dessa densa floresta onde entrei e cheia de medo fugi. With Teeth. E eis que com garras e dentes me agarro de novo à vida.Todos me dizem para sugar a vida e aproveitar o jogo. Depois da última e derradeira desilusão que me trouxe muitos e bem apreciados momentos de felicidade pura e saudável, o que tenho de fazer é entrar no jogo. E a ele apetece-lhe jogar. Diz que me vai convencer e que sabe o futuro. Vamos ver. Mas se é para jogar, então vamos.

Chamo-lhes Ash(es). De Ash. De cinzas. De ash que se torna cinza. E começo-as hoje.É hora de ir fumar a inspiração.

TV on the Radio. Uma das melhores e mais inspiradas bandas que tive o prazer de ser apresentada. Mais uma vez pela Alada. Love is a Province of the brave. Genial. Wolf like me. Elucidativo…

Voltando ao jogo. Pois que julga que se apaixonou por mim ao primeiro olhar e que sabe que lhe pertenço, demore o que demorar. Diz que o meu jogo é fazer de má e de dura e que vê para além disso…
Eu tinha uma t-shirt verde, um colar vermelho e uma saia branca, rodada, com bordado inglês que me chega a um palmo dos tornozelos. Eu tinha um papel dobrado em 4, com o meu número de telefone e um rebuçado encarnado. Eu tinha um plano. Tinha pensado noutra estratégia. Mas o destorcido destino tinha o roteiro perfeito para nos encruzilhar nessa perfeita escada. Eu desço, determinada e olho para ele. Perfeito. Abro meu mais lindo sorriso de anúncio de pasta de dentes e dou-lhe, papel e rebuçado. Ele subia. E sorriu como se fosse ele próprio o Deus que inventou o acto de sorrir.
E dou-me conta de que sinto mais falta dele do que gosto de admitir. Porque dizem que o Amor nos atinge no âmago e eu fui atingida até ao mais profundo do meu ser. Mas não da primeira vez. Bateu-me com força na quarta ou quinta, quando decidi que havia de ser meu. Quando fui assaltada por essa força mais poderosa que a vida e a morte juntas numa espiral de harmonia, tensão e ritmo. Em mim, fogo e água que se elevam no ar e simultaneamente me puxam para o centro da terra, à velocidade do éter, que sendo etéreo velocidade não tem. E em excesso me confesso.
Porque é um excesso sentir assim, como se fossemos ao mesmo tempo, o condutor, a pista e o carro, sentindo desde as variações do ar, o rasto dos pneus e a adrenalina de estar ao volante em contra-ordenação grave por excesso. De velocidade. De adrenalina. De tensão. De tesão. De amor.

(...)

E hoje me confesso, perdida de rendição.

De quem eu gosto, nem às paredes confesso. E não sei porque não.


(13 de Agosto de 2008)

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