Lembro-me do dia em que tu nasceste. Acordei de manhã, em casa da avó, que me disse que a mãe estava no Hospital porque tu já tinhas nascido. Eu nem podia acreditar. Meses à tua espera, depois daquela noite em que os pais me contaram que tu vinhas a caminho. Fui a casa. Ninguém. Então era verdade! Voltei a casa da avó e esperei à janela da marquise. Estava muito sol, muito calor. De repente, ouvi o som familiar do carro do pai. Trazia no banco de trás um enorme ramo de flores amarelas para eu oferecer à mãe. E disse-me: "O Mano já nasceu. Anda, vamos ver a mãe.". Pus o meu sorriso mais bonito para te ver. Quando cheguei ao quarto onde vocês estavam, fui acometida de um sentimento de responsabilidade muito adulto. E achei que eras o Nenuco mais giro que alguma vez eu tinha visto!
A partir desse dia passámos a ser dois! E desde aí estás sempre, sempre comigo, por mais quilómetros ou anos que nos separem. Nunca te esqueço. Fazes parte de tudo o que há de mais visceral, profundo e fraterno que há em mim.
No dia em que regressei à escola, devias ter menos de um mês de idade. Todos os meus coleguinhas contaram o que tinham feito nas férias do Verão. Todas aquelas viagens, idas à praia e à piscina me pareciam ridículas face à minha enriquecedora e madura experiência de ser Mana mais velha. Por isso, quando a professora Cândida me deu a palavra, eu disse simplesmente e cheia de orgulho e vaidade: "Neste Verão, eu tive um Mano!". E isso era a única coisa realmente importante e a mais bonita de todas.
Para além de seres o meu Nenuco e andares comigo para a frente e para trás, a mudar de roupa constantemente e a ser penteado, a ser pegado ao colo e todas essas coisas que as meninas fazem aos Nenucos quando não têm irmãos mais novos, tinhas de ouvir a minha tagarelice durante horas e horas a fio. Eras um brinquedo que brincava.
Foste crescendo, e continuavas a ouvir-me falar sem parar. Para além de brincar, eras um briquedo que também já falava e respondia. Tinha muito mais graça! Lembro-me da tua primeira palavra, dita à porta de casa. "Dan", o nome do grande cão preto da Fernanda e do falecido Luis, que nunca tiveste o privilégio de conhecer. E havia também as tardes passadas na biblioteca a explorar o atlas, em que eu te mostrava coisas sobre os outros países e sobre sítios onde tínhamos ido e tu não te lembravas. As sessões literárias foram tão produtivas que hoje em dia detestas ler... Lembro-me ainda de dormir em casa da avó, quando os pais saíam, e antes de ir dormir, ía ao quarto onde tu ficavas e conversávamos até tu adormeceres. Sempre conversámos muito, sobretudo à noite, quando todos dormem e ficamos só os dois com as bolachas e os nossos segredos. (Há tanto tempo que não me fazes panquecas...).
Há um sítio, Mano, que só tu e eu conhecemos. Um espaço de cumplicidade só nosso, onde selamos o nosso contrato de segredo, entre-ajuda e conversas pela noite dentro. E onde mais ninguém chega, por mais que nos tornemos mais velhos e a vida naturalmente nos afaste física e geograficamente. És sempre bem-vindo na minha casa, como sempre foste bem-vindo na minha vida. Nada nem ninguém no mundo vai conseguir mudar isso. Nunca. Prometo.
Já passaram quase 17 anos e tu cresceste tanto! Já não és o meu Nenuco, mas continuas a ser o miúdo mais giro que eu conheço! Ou melhor, o Homem mais bonito. Adoro-te!
Para ti, por ti, contigo, sempre!
(Escrito em 29/3/2007)
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